sábado, 31 de março de 2012

Destino político de Demóstenes será traçado até terça-feira DEM pode expulsar senador se ele não der explicações sobre sua relação com bicheiro





Ed Ferreira/AE
Gravações autorizadas pela Justiça mostram laços bastante estreitos entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador


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O partido Democratas deu um ultimato ao senador Demóstenes Torres (GO), suspeito de irregularidades por sua relação com o empresário Carlinhos Cachoeira, que foi preso na operação Monte Carlo, da Polícia Federal, acusado de associação com jogos de azar. De acordo com o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), o senador tem até a próxima terça-feira (3) para dar explicações "contundentes" e "convincentes" sobre as denúncias contra ele.

Caso isto não aconteça, o parlamentar admite que o partido pode dar início ao processo de expulsão dele da legenda.

— Se ele não for contundente e convincente, torna-se insustentável a permanência dele no partido.

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Para o deputado baiano, a situação do parlamentar se "agravou" com a divulgação de novos grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal. Além disso, o senador tornou-se alvo de um inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) e corre o risco de ser cassado, já que o PSOL levou uma representação contra ele ao Conselho de Ética do Senado.

O ultimato foi dado após um encontro, na última quinta (29), entre Demóstenes, Neto e outros integrantes da cúpula. Na conversa, Demóstenes disse que não sabia o que havia no inquérito contra ele em curso no Supremo. Por isso, ele pediu este fim de semana para analisar a investigação e só depois dar uma resposta definitiva.

Nos bastidores, porém, a cúpula partidária tem pressionado Demóstenes a deixar a legenda por conta própria. Querem evitar que as denúncias afetem a legenda. Acreditam que o senador não tem mais condições de esclarecer o relacionamento que teve com Cachoeira.

Investigação e STF

O ministro Ricardo Lewandowski solicitou ao Banco Central que apresente informações sobre as movimentações financeiras do parlamentar e ao presidente do Senado Federal, José Sarney, para que envie ao STF a relação de emendas ao Orçamento apresentadas por Demóstenes Torres.

O ministro determinou, ainda, que a Polícia Federal transcreva 19 diálogos telefônicos registrados na Operação Monte Carlo e que órgãos públicos prestem informações a respeito de contratos celebrados com empresas investigadas.

Demóstenes era o líder de seu partido no Senado e licenciou-se do cargo para “acompanhar a evolução dos fatos” noticiados sobre ele. O senador tinha uma linha de telefone exclusiva para falar com Cachoeira e foi flagrado em 300 diálogos com o empresário, segundo investigação da PF.

Gravações da Polícia Federal

Além de tratar de projetos de interesse do Carlinhos Cachoeira, como propostas relativas à legalização dos jogos de azar, os grampos telefônicos mostram que o senador também fazia favores maiores, como contratar funcionários fantasma e marcar audiências na Justiça.
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Advogado: Demóstenes não renuncia
Em uma conversa de maio de 2009, por exemplo, Demóstenes avisa ao empresário que vai demitir dois funcionários de seu gabinete porque estaria havendo uma “caça às bruxas”, uma busca por servidores fantasmas no Senado. O senador dá a entender que as contratações foram feitas sob encomenda do bicheiro. Leia as transcrições abaixo:

Demóstenes - Fala Professor... Ó, é o seguinte: tem uma notícia ruim. Tem que demitir aqui. É a Kênia. E o outro rapaz lá. Tão aqui nos gabinetes procurando servidores fantasmas. Você entendeu ? Então, para evitar problema, no futuro a gente volta a resolver isso aí, falou?
Cachoeira - Tá bom.
Demóstenes - Caça às bruxas aqui. Mas daqui a uns dois, três meses a coisa aquieta e a gente retorna, falou?
Cachoeira - Ok, Doutor.

Em outro diálogo, em abril do mesmo ano, o senador informa ao empresário ter conseguido atender a um pedido dele com o desembargador Alan Sebastião de Sena, do TJ (Tribunal de Justiça) de Goiás, sobre um tema de interesse de Cachoeira.





Demóstenes - Fala, Professor. Acabei de chegar lá do desembargador. O homem disse que vai olhar o negócio e tal. Disse que um deles já tinha estado lá com ele viu? (...) Tem tudo para seguir esse caminho aí. Condenar o delegado e absolver os outros. Vai depender das provas. Se a prova for desse jeito que eu falei e tal, o outro vai também...
Cachoeira - Ele vai julgar rápido?
Demóstenes - Vai julgar rápido. Mandou pegar o papel. Já pegou o negócio lá. Diz que vai fazer o mais rápido possível.

Em junho, Demóstenes pede ao bicheiro que pague a conta do avião fretado que utilizou. Em seguida, atende novamente ao pedido do empresário de pressionar o desembargador a julgar um caso de forma favorável ao interesse de Cachoeira.

Demóstenes - (...) por falar nisso tem que pagar aquele trem do Voar. Do Voar não, da Sete né?
Cachoeira - Tá, tu me fala aí. Eu falo com o, com o Vilnei. Quanto foi lá?
Demóstenes - Quanto foi? Três mil.
Cachoeira - Tá eu passo pro Nilo. Deixa eu te falar. Aquele negócio tá concluso aí, aquele negócio do desembargador Alan, você lembra? A procuradora entregou aí para ele. Podia dar uma olhada com ele. Você podia dar um pulinho lá para mim?
Demóstenes - Mesma situação daquele rapaz?
Cachoeira - Ele tá concluso já pro Alan. (...)
Demóstenes - Tá tranquilo. Eu faço.

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